O verão chegou com toda a sua força. O sol brilhava como se fosse o próprio astro-rei mostrando que estava em plena forma, e a praia parecia ter sido feita para ela naquele dia. Ana estava lá, deitada na toalha, olhando para o céu. Não fazia nada de extraordinário, mas tinha a sensação de que estava fazendo tudo o que precisava fazer.
“O que estou fazendo da minha vida?” Ana pensava, antes de interromper o próprio fluxo de pensamentos e rir de si mesma. “É sério, Ana? Você está fazendo exatamente o que deveria. Está aqui, na praia, com os pés enterrados na areia, ouvindo as ondas e vendo o céu virar uma tela artística.” Ela deu uma risada e se espreguiçou, achando graça de como as respostas da vida pareciam simples quando a gente parava para ouvir o vento e o som do mar.
Ela não estava preocupada em fazer grandes planos ou refletir sobre decisões complicadas. Não naquele dia. Naquele dia, ela só queria aproveitar o calor do sol e a leveza de ser. Aliás, quem é que não se sente mais leve quando está de pés descalços, sentindo a areia esquentar e o vento bagunçar os cabelos? Ana estava vivendo o momento. Isso já era o suficiente.
De repente, um grito interrompeu sua paz.
“Ana! Você não vai fazer nada além de ficar aí esticada? O verão está pedindo ação!”
Era Clara, sua amiga de infância, que surgiu da água como uma sereia moderna, cabelo molhado e sorriso travesso. Clara sempre tinha energia para mil coisas, enquanto Ana… bem, Ana era do tipo que preferia observar. E refletir. E de vez em quando filosofar sobre as pequenas coisas da vida.
“Eu estou fazendo algo!” respondeu Ana, fingindo indignação. “Estou… pensando. Pensando profundamente, claro.”
Clara deu uma gargalhada, se jogando na toalha ao lado de Ana.
“Pensando profundamente? Ana, você está só derretendo na areia como um sorvete que derrete no sol. A gente já viu esse filme, e eu sei como termina – você fica aqui até escurecer e a única coisa que reflete é o quanto sua pele está mais bronzeada. Vem comigo! Vamos nadar até o limite do mar, sentir que somos invencíveis!”
Ana sorriu, mas permaneceu ali, absorvendo o sol com uma intensidade que só quem estava realmente em paz com o próprio ser poderia entender.
“Vou nadar… já já. Só mais uns cinco minutos de reflexão sobre a vida”, Ana respondeu com um tom de voz que deixava claro que “cinco minutos” não significava realmente cinco minutos. Era mais uma dessas artimanhas que a mente inventa para enganar o tempo.
“Cinco minutos? Já está com 20!”, Clara exclamou. “Você é mestre em perder a noção do tempo quando está nesse modo ‘filosofando com as ondas’. Acho que você precisa de uma missão para deixar a sua mente mais… ativa!”
Ana olhou para o mar, com aquele brilho de quem finalmente encontrou uma resposta que estava se escondendo entre as ondas.
“É, talvez eu precise de uma missão. Mas sabe, Clara… eu estava pensando sobre isso. A vida… sabe, a vida tem essa coisa de fazer a gente correr o tempo inteiro. Mas eu não sei, acho que a verdadeira missão é parar um pouco e perceber o simples. Aqui, na praia, a gente percebe que tudo o que precisamos já está à nossa volta: o céu, o mar, a areia… e principalmente, a gente. Eu acho que o segredo da missão é se dar tempo para ver tudo isso. Para se reconectar com o simples.”
Clara olhou para ela com uma expressão que, entre o espanto e o riso, dizia: “Você foi longe, hein? Agora está com a alma de filósofa!”
Ana riu de volta. “Eu sei, às vezes me pego falando essas coisas malucas. Mas é verdade, Clara! Tem algo no simples que nos faz lembrar de quem somos, sem pressão de ser algo mais. Como a areia, por exemplo. Ela está ali o tempo todo, mas só a percebemos quando ficamos deitados e deixamos ela moldar nossos pés. Eu estou aprendendo a ser mais como a areia: solta, leve, não me importando tanto com o que ‘deveria’ ser.”
Clara ficou pensativa por um segundo, antes de soltar uma gargalhada.
“Então você está me dizendo que o segredo da vida é ser como a areia? Sério, Ana, você é a pessoa mais profunda que conheço. E quem diria, hein? Pensando na vida e no verão enquanto está deitada na toalha!”
Ana fez uma careta, tentando se manter séria. “Ei, não é tão simples assim. Mas olha, a verdade é que o verão, com sua calma e simplicidade, traz à tona tudo aquilo que a gente precisa, sem esforço. E a areia, essa sim, tem uma lição que a vida inteira podia aprender.”
“Ok, filósofa Ana, acho que agora a missão é minha! Vou correr até a água e nadar até o fim do mundo, e você vai ficar aqui filosofando sobre a areia.”
Ana sorriu enquanto Clara corria para o mar. Ela pensou por um momento, olhando o movimento das ondas, como se o próprio mar tivesse entendido o que ela queria dizer. Simples. A vida podia ser muito mais simples do que às vezes imaginamos. Quando parávamos para sentir a areia quente nos pés ou o som do vento, percebíamos que não precisava de mais nada.
“Tá, eu vou nessa”, Ana disse para si mesma. “Vou fazer minha missão de hoje e dar um mergulho na água. Quem sabe, no caminho, eu descubro mais sobre o que a vida realmente quer me ensinar.”
Ela se levantou, sacudiu a areia do corpo e foi até o mar, onde Clara já a esperava, fazendo caretas e chamando-a com os braços.
Naquele instante, Ana sentiu que estava, finalmente, em sintonia com o momento. Não precisava de respostas mirabolantes ou de grandes revelações. A missão era simples: aproveitar o que havia ali, o agora. O calor do sol, a brisa no rosto e a liberdade de ser quem ela era, sem pressa de se encaixar ou de se apressar para o próximo objetivo.
Ela entrou na água, sentindo a temperatura fria no corpo e uma leveza que só os momentos mais genuínos podiam proporcionar.
“Viu? Não é tão difícil, né?” Clara gritou, com a água até os joelhos.
“Sim, eu vi! E a vida é mais ou menos assim: basta se jogar nas ondas de vez em quando”, respondeu Ana, com um sorriso tranquilo no rosto.
E assim, as duas continuaram a se divertir, mergulhando nas águas cristalinas, dando risada da vida e aproveitando o simples prazer de estar ali, no verão. Porque, no fim das contas, a verdadeira missão de Ana naquele dia era justamente essa: encontrar beleza na simplicidade, aprender a se reconectar com o que realmente importa e, claro, se divertir como se não houvesse amanhã.