Mitos Sobre o TDAH: Desconstruindo Crenças Erradas e Difundindo a Realidade Científica

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos transtornos neuropsiquiátricos mais comuns, afetando milhões de pessoas em todo o mundo. No entanto, apesar de sua alta prevalência, o TDAH ainda é cercado por muitos mitos e equívocos que dificultam a compreensão adequada do transtorno, tanto para os diagnosticados quanto para a sociedade em geral. Esses mitos podem levar a estigmas, mal-entendidos e até mesmo atrasos no diagnóstico e tratamento, impactando negativamente a vida de muitos indivíduos.

O objetivo deste artigo é desmistificar algumas das crenças erradas mais comuns sobre o TDAH, desafiando ideias preconcebidas e apresentando uma visão mais precisa e científica do transtorno, com ênfase nas mulheres adultas, cujas dificuldades muitas vezes são menos reconhecidas.

Mito: O TDAH é Apenas uma Questão de Desatenção

Um dos mitos mais persistentes sobre o TDAH é a ideia de que ele é limitado apenas à desatenção. Embora a dificuldade de manter o foco seja um dos principais sintomas do TDAH, o transtorno é muito mais complexo do que isso. O TDAH envolve uma combinação de desatenção, impulsividade e, em alguns casos, hiperatividade — mas as manifestações desses sintomas podem variar amplamente de pessoa para pessoa.

Realidade científica:

O TDAH não é um simples “foco perdido”. Ele está relacionado a disfunções nas regiões cerebrais que controlam funções executivas, como planejamento, organização, tomada de decisões e regulação emocional. Isso significa que pessoas com TDAH podem ter dificuldades não apenas em manter a atenção em tarefas monótonas, mas também em controlar impulsos, planejar atividades e gerenciar o tempo de forma eficaz.

Além disso, os sintomas de desatenção e hiperatividade podem se manifestar de maneiras distintas em diferentes indivíduos. Por exemplo, em adultos, o TDAH pode se apresentar mais como uma luta constante para organizar pensamentos e tarefas, o que pode ser interpretado erroneamente como preguiça ou falta de disciplina.

Mito: O TDAH Afeta Apenas Crianças

Outro mito comum é a ideia de que o TDAH é um transtorno exclusivamente infantil. Embora seja verdade que o TDAH é frequentemente diagnosticado na infância, muitas pessoas não percebem que ele pode persistir na vida adulta. De fato, estudos indicam que uma parte significativa dos adultos diagnosticados com TDAH não recebeu esse diagnóstico quando eram crianças, especialmente no caso de mulheres, que frequentemente apresentam sintomas mais sutis ou mascarados.

Realidade científica:

O TDAH não desaparece quando a pessoa chega à idade adulta. Muitas mulheres podem ter vivido a maior parte da sua vida sem saber que têm o transtorno, lidando com dificuldades na carreira, relacionamentos e saúde mental sem compreender o motivo por trás dessas dificuldades. As mulheres com TDAH podem enfrentar desafios específicos que passam despercebidos, como uma maior tendência a ter distúrbios de ansiedade, depressão e dificuldades de autoestima.

Adultos com TDAH podem ter problemas contínuos de organização, procrastinação, impulsividade e dificuldades no cumprimento de tarefas, mesmo que essas dificuldades não sejam mais associadas à “falta de atenção” nos moldes tradicionais. Isso pode ser ainda mais complexo para mulheres, que frequentemente assumem múltiplos papéis na sociedade (mãe, esposa, profissional) e podem, portanto, se sentir sobrecarregadas sem o diagnóstico adequado.

Mito: O TDAH é Causado Pela Falta de Disciplina ou Educação

A ideia de que o TDAH é resultado de uma educação inadequada ou de falta de disciplina é um dos mitos mais prejudiciais que existe sobre o transtorno. Este equívoco frequentemente leva a um estigma negativo, em que os indivíduos com TDAH são vistos como preguiçosos ou irresponsáveis.

Realidade científica:

O TDAH tem uma base biológica comprovada. Estudos de neuroimagem mostraram que há diferenças no funcionamento de certas áreas do cérebro em pessoas com TDAH, especialmente nas regiões responsáveis pelas funções executivas, como o córtex pré-frontal. Além disso, pesquisas indicam que o TDAH possui um forte componente genético. Isso significa que o transtorno não é causado pela educação ou falta de disciplina, mas sim por uma interação complexa entre fatores genéticos e ambientais.

Embora uma educação estruturada e o apoio adequado possam ajudar a manejar os sintomas, a ideia de que o TDAH é causado exclusivamente pela “falta de disciplina” é não apenas equivocada, mas também estigmatizante. A realidade é que o TDAH é um transtorno neuropsiquiátrico legítimo e precisa ser tratado com uma abordagem compreensiva e baseada na ciência.

Mito: Mulheres com TDAH São Apenas “Esquecidas” ou “Desorganizadas”

Muitas mulheres com TDAH têm seus sintomas desconsiderados ou mal interpretados devido aos estereótipos de gênero. Enquanto homens com TDAH costumam exibir comportamentos mais visíveis de hiperatividade e impulsividade, as mulheres tendem a apresentar formas mais sutis de desatenção e dificuldade de organização, o que pode ser confundido com simples “desorganização” ou “esquecimento”.

Realidade científica:

Mulheres com TDAH podem ter uma experiência única do transtorno, frequentemente não associada aos sintomas clássicos de hiperatividade. As manifestações podem incluir dificuldades em manter o foco em conversas, procrastinação excessiva, desorganização mental e emocional, além de problemas com autoestima e ansiedade.

Esses sintomas muitas vezes não são reconhecidos como parte do TDAH, levando a diagnósticos tardios ou até mesmo errados. A desatenção pode ser disfarçada por uma tendência a “fazer de conta” que tudo está sob controle, o que pode gerar um grande estresse emocional. Mulheres com TDAH também podem experimentar dificuldades em equilibrar as múltiplas demandas da vida, como trabalho, cuidados com a família e vida social, o que aumenta ainda mais o impacto do transtorno.

Mito: O TDAH Não Tem Tratamento Eficaz

Algumas pessoas ainda acreditam que o TDAH é um transtorno sem solução, especialmente quando se trata de adultos. A falta de compreensão sobre as opções de tratamento eficazes pode fazer com que muitos indivíduos com TDAH não procurem ajuda ou aceitem a ideia de que nada pode ser feito.

Realidade científica:

Embora o TDAH não tenha uma cura definitiva, existem tratamentos comprovadamente eficazes que ajudam a controlar os sintomas. Isso inclui o uso de medicamentos, como os estimulantes (metilfenidato, anfetamina) e não estimulantes (atomoxetina), bem como intervenções terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que pode ajudar as pessoas a desenvolverem habilidades de organização, gestão do tempo e controle de impulsos.

Além disso, abordagens como o biohacking (por exemplo, a otimização de hábitos de sono, dieta e exercício) têm se mostrado eficazes no manejo do TDAH, oferecendo uma abordagem holística que complementa os tratamentos tradicionais.

Mito: O TDAH é um “Problema de Criança” que Passa com a Idade

Embora os sintomas do TDAH possam mudar ao longo da vida, muitas pessoas acreditam que o transtorno “desaparece” quando a pessoa atinge a adolescência ou a idade adulta. Esse mito pode atrasar o diagnóstico de adultos que convivem com TDAH e não compreendem completamente seus desafios.

Realidade científica:

Como mencionado anteriormente, o TDAH pode persistir ao longo da vida. Em adultos, ele pode se manifestar de maneira mais sutil, com dificuldades em manter o foco, procrastinação, impulsividade financeira e problemas em manter uma rotina. Muitas vezes, as mulheres têm dificuldades para identificar e reconhecer esses sintomas, especialmente porque eles podem ser mascarados por outras condições, como depressão ou ansiedade.

Conclusão

É fundamental que continuemos a desmistificar o TDAH e combatamos os preconceitos que cercam esse transtorno. Ao quebrar os mitos, podemos não só melhorar o diagnóstico e o tratamento, mas também ajudar as mulheres e homens com TDAH a se sentirem mais compreendidos e apoiados. O conhecimento científico tem avançado, e agora é hora de todos nós adotarmos uma visão mais precisa e empática sobre o TDAH, focando nas soluções e no potencial de cada indivíduo, ao invés de perpetuar estigmas infundados.

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