Ana nunca foi de complicar as coisas, mas quando se tratava de impressionar a sogra, a coisa mudava de figura. Ela estava apaixonada, completamente encantada por Gabriel, e ele era a razão de sua alegria e, ao mesmo tempo, da sua leve ansiedade. Porque, para Ana, não havia nada mais desafiador do que conquistar o coração de uma pessoa especial. E no caso, a pessoa especial era a sogra.
“Vai dar tudo certo, Ana. Vai ser fácil. Eu sou boa em conversar com pessoas”, ela se disse, com um sorriso confiante no espelho. Mas ao mesmo tempo, algo no fundo de sua mente dizia: “A sogra é um ser místico, cheio de sabedoria e… expectativas!”
Gabriel, como sempre, tentava tranquilizá-la. “Não se preocupa, minha mãe é super tranquila. Vai ser ótimo! Só não precisa se matar para impressioná-la, ok?”
Mas Ana não ouvia. Estava determinada a fazer um jantar perfeito. Tinha lido alguns blogs sobre como conquistar sogras (claro, não ia fazer feio) e decidiu preparar um prato sofisticado: risoto de cogumelos com vinho branco. Uma receita que, aparentemente, seria simples. Mas Ana sabia que sua habilidade na cozinha era mais de “espera e torce para dar certo” do que de “chef de cozinha”. Mas, mesmo assim, ela se jogou de cabeça.
Quando chegou o grande dia, Ana já estava suando frio. Ela ficou mais de uma hora tentando escolher a roupa. Nada muito chamativo, mas também queria causar uma boa impressão. Escolheu uma blusa simples, mas chique, e uma calça jeans que “dava aquele toque de sofisticação”. Estava pronta. Ou pelo menos, parecia pronta.
Quando chegou na casa de Gabriel, ela foi recebida com um sorriso acolhedor de sua mãe, Dona Cláudia. A mulher tinha um charme natural e uma elegância discreta, o tipo de pessoa que já sabia exatamente o que queria, o que fazia de Ana a sua antítese em muitos momentos. Dona Cláudia cumprimentou-a com um abraço apertado.
“Oi, Ana! Que bom te ver! Fico tão feliz que você veio. O Gabriel fala tanto de você, já estava ansiosa para te conhecer melhor.”
Ana sorriu, meio nervosa. “Eu também! Obrigada por me receber. Eu… eu trouxe uma sobremesa, caso o risoto não dê certo!” ela disse, rindo com um ar de leve desconforto.
“Ah, Ana, fica tranquila, a gente vai adorar o que você preparou. Vamos aproveitar o momento. Nada de pressão!”
A mesa estava linda. Dona Cláudia tinha arrumado tudo com um toque delicado, mas Ana não podia deixar de notar os pequenos detalhes, como a decoração de flores, que pareciam sempre mais perfeitas do que qualquer tentativa dela. “Ok, focada no risoto. Foco no risoto”, pensou.
Enquanto Gabriel e sua mãe iam para a sala conversar, Ana correu para a cozinha para terminar o prato. Ela estava tentando seguir a receita à risca, mas parecia que algo sempre dava errado. O arroz parecia não querer cozinhar direito, e o cheiro dos cogumelos estava tomando conta do ambiente de uma maneira… não tão agradável quanto ela imaginara. “Ai meu Deus, o que estou fazendo?”, ela pensou, mas não podia mais voltar atrás.
Então, para completar, o vinho branco que ela estava utilizando para o risoto, de alguma forma, acabou respingando na sua blusa! “Não acredito!” Ana disse, limpando a mancha com um pedaço de papel toalha, mas a mancha estava lá, persistente. A única coisa que ela podia fazer era continuar com a missão.
Quando o prato finalmente ficou pronto, Ana sentiu uma mistura de alívio e apreensão. Era só servir e esperar para ver o que aconteceria. “Ok, Ana. A vida é uma grande comédia, e se der errado, pelo menos vai ser engraçado.”
Ela levou o risoto até a sala, e no momento em que colocou o prato na mesa, Gabriel sorriu, sem saber o que esperar, mas visivelmente feliz por ver o esforço dela. Dona Cláudia olhou para o prato com aquele olhar de quem já estava imaginando o que viria a seguir. Mas, em vez de reclamar ou fazer uma careta, ela olhou diretamente para Ana e disse:
“Hum, o cheiro está ótimo. Vamos ver como ficou!”
Ana, com um sorriso nervoso, se sentou à mesa, tentando se fazer de calma. O primeiro garfo de Dona Cláudia foi para a boca e… o silêncio tomou conta da sala. Ana se sentiu como se tivesse caído em um abismo de expectativa.
De repente, Dona Cláudia soltou uma risada suave e olhou para Ana.
“Eu sabia que o risoto estava bom, porque eu sinto que você é uma pessoa que coloca amor em tudo o que faz. E eu sou uma boa apreciadora de pratos feitos com carinho.”
Ana ficou surpresa e um pouco aliviada. “Ah, você gostou?” disse, um pouco desconcertada.
“Eu amei. E o vinho é maravilhoso, viu? Você não tem que se preocupar, Ana. Isso aqui é sobre o momento, e você trouxe a energia certa. Eu sabia que não ia me decepcionar.”
Ana olhou para Gabriel, que a observava com um sorriso cheio de orgulho. E, para seu espanto, Dona Cláudia se levantou, foi até a geladeira e trouxe uma sobremesa.
“Eu sei que você se preparou, mas a sobremesa foi por minha conta, porque sei que a cozinha às vezes nos prega peças, não é mesmo?” ela disse com um sorriso gentil. “E agora, vamos todos relaxar e aproveitar o nosso tempo juntos.”
Ana não sabia se riria ou se choraria. Estava, na verdade, em um misto de alívio e felicidade. “Eu posso não ser uma grande chef, mas parece que no quesito encantar a sogra, eu realmente acertei”, pensou, sentindo um calorzinho no coração.
A conversa fluiu durante a refeição. Ana se sentiu completamente à vontade com Dona Cláudia, e as duas começaram a falar sobre tudo – desde o jeito de Gabriel quando criança, até histórias engraçadas da família. Ana sentiu que, mais do que a comida, foi a forma como ela se entregou ao momento que fez a diferença. Afinal, o que realmente conquistava alguém não era um prato perfeito ou uma apresentação impecável. Era o coração com o qual ela se dedicava.
Ao final do jantar, Dona Cláudia a olhou com um sorriso genuíno e disse:
“Ana, você tem algo especial. Não é o risoto, nem a sobremesa. É a sua maneira de ser, de se entregar. É isso que me conquistou.”
Ana sentiu uma felicidade tão grande que só podia responder com um sorriso largo. Ela tinha dado o seu melhor, e o que realmente importava, naquele momento, era que o amor e a honestidade transbordavam. Não havia necessidade de perfeição.
“Obrigada, Dona Cláudia. Eu acho que você acaba de me conquistar também!”