Ana era uma menina doce, criativa e com uma energia que parecia não ter fim. Em um dia comum de aula, com o sol brilhando e as nuvens passeando no céu, ela estava no meio de mais uma daquelas aventuras escolares, onde o conhecimento se misturava com as descobertas diárias e o TDAH estava sempre à espreita, pronto para se mostrar.
Na sala de aula, a professora começava a explicar o que era um triângulo equilátero, mas, para Ana, o mundo parecia bem mais interessante do que aquela figura com três lados iguais. Ela olhou para o desenho, pensou por um segundo e, antes de perceber, já estava imaginando que o triângulo poderia ser um pedaço de pizza – e aí sua mente viajou. Como seria se cada pedaço de pizza tivesse uma história, e ela fosse uma exploradora que precisava descobrir todas as receitas secretas de cada fatia? Claro, ela não estava mais prestando atenção na aula, mas o pensamento a deixou encantada.
“Ah, Ana!” – disse a professora, tirando-a de sua fantasia gastronômica – “Você está com a cabeça lá nas estrelas de novo?”
Ana sorriu, um pouco envergonhada, mas sem perder o brilho nos olhos. “Sim, professora! Eu estava só tentando entender a geometria do mundo das pizzas!”
A sala toda riu. Mas Ana não se importou. Ela sabia que sua mente era um turbilhão de ideias e às vezes fugia do controle. Porém, ela também sabia que, ao voltar para a realidade, conseguiria pegar um fio de conexão e achar algo bom.
Naquela manhã, por exemplo, a professora pediu que todos escrevessem uma redação sobre o que gostariam de ser quando crescessem. Ana, com seu jeitinho criativo e descontraído, fez algo diferente. Em vez de simplesmente escrever sobre ser veterinária, como muitos de seus colegas, ela decidiu que seria uma exploradora do mundo das palavras. Cada palavra era um continente, cada frase, um barco para navegar. Sua redação virou uma viagem ao redor do mundo, onde cada ideia ganhava asas.
No recreio, Ana não foi para o grupo de sempre, onde as meninas falavam sobre as últimas fofocas da escola. Ela estava observando uma árvore enorme do lado do pátio, como se fosse uma gigantesca casa de brinquedos para as aves. Durante a pausa, sua mente funcionava como um foguete em uma jornada pelo cosmos de seus próprios pensamentos. Mas Ana não se sentia sozinha. Ela sabia que seus colegas tinham dificuldades também, mas estavam todos tão imersos nas suas próprias histórias que, às vezes, ninguém reparava o quanto os outros estavam sentindo. Ana, por outro lado, sempre reparava.
Quando uma amiga chegou perto, parecendo um pouco perdida, Ana a convidou a sentar sob a árvore. A menina estava com dificuldades para lidar com algo que acontecia na escola, e Ana, com seu jeito leve, a abraçou mentalmente, dizendo:
“Eu sei, às vezes a vida parece uma matemática difícil, cheia de perguntas sem respostas. Mas, sabe, eu descobri que, quando a gente deixa as perguntas serem como estrelas, a gente consegue vê-las melhor. E as respostas, bom, elas vão aparecendo aos poucos, como se estivessem esperando a gente crescer um pouquinho mais.”
A amiga sorriu e, mesmo sem entender tudo, sentiu uma paz que só quem tem a alma tão generosa quanto a de Ana poderia transmitir. Ana era uma especialista em empatia, na verdadeira aceitação do outro. Ela entendia que cada um de nós tinha suas próprias dificuldades, suas próprias batalhas invisíveis. E o TDAH de Ana, com toda a sua energia e confusão, a ajudava a ser ainda mais sensível às histórias dos outros.
Naquele momento, Ana não pensava em ser perfeita. Ela sabia que suas distrações, seus momentos de desorganização e sua falta de foco eram apenas partes do que a tornavam única. Seu TDAH não era uma prisão, mas uma maneira de ver o mundo de um jeito que ninguém mais via. Ela não precisava ser como todo mundo. Ela já era incrível do jeito que era.
Quando o sinal tocou para o fim do recreio, Ana voltou para a sala com uma nova ideia, um novo pensamento. Ela adorava aprender, mas seu jeito de aprender era único. Ela não se via apenas como a menina distraída, que “não conseguia terminar o que começava”. Ela se via como alguém com um superpoder de enxergar conexões que passavam despercebidas. Para Ana, as dificuldades estavam ali para serem compreendidas, não combatidas.
Naquela tarde, quando a professora pediu para a turma escrever sobre um novo projeto, Ana levantou a mão, radiante, com uma ideia na cabeça. “Professora, que tal se fizermos uma feira de talentos? Cada um mostra o que sabe fazer de diferente, e todos aprendem com todos! Eu sei que cada um tem algo incrível para compartilhar!”
A professora sorriu, impressionada com a capacidade de Ana de pensar fora da caixa. Todos os colegas apoiaram a ideia, e o projeto se tornou um sucesso.
E assim, Ana seguiu com sua rotina escolar, sempre com um sorriso no rosto, pronta para enfrentar os desafios, entender suas dificuldades e celebrar suas habilidades. Para ela, o amor pelo outro e a aceitação de si mesma eram as maiores lições que a escola poderia oferecer.