Do Outro Lado do Espelho: Uma Conversa Entre Passado e Presente

Cena 1: O Encontro

Ana, 9 anos, estava sentada no chão do quarto, os olhos grandes e brilhantes, escondida atrás dos joelhos. Era tímida, insegura e carregava uma sensação constante de inadequação. O mundo lá fora parecia rápido demais, barulhento demais. Ninguém entendia por que ela era tão “desligada” e “desorganizada”. 

De repente, um espelho mágico no canto do quarto começou a brilhar. Do outro lado, uma mulher adulta sorria. Cabelos bem penteados, um olhar sereno e uma agenda perfeitamente organizada na mão. Era Ana, só que… do futuro. 

— Ei, pequenina. — A mulher disse, piscando um olho. — Lembra de mim? 

— Hã… eu? — A pequena Ana olhou desconfiada. — Como eu poderia esquecer de mim mesma? 

A adulta riu, aquela risada que parecia uma mistura de alívio e orgulho. 

Cena 2: O Desabafo 

— Você é… eu? — Ana criança perguntou, franzindo a testa. — Mas como? Eu sou tão… bagunçada. Olha só, perdi meu caderno, esqueci o trabalho da escola, e não consigo falar com ninguém sem ficar vermelha! 

— Ah, querida, eu sei. Eu fui você. Eu lembro da vergonha de esquecer coisas importantes, do medo de falar em público e do constante pensamento de que eu não pertencia a lugar nenhum. 

Ana criança suspirou. 

— Então… melhorou? 

A Ana adulta sorriu com ternura. 

— Melhorou. Mas levou tempo. No caminho, aprendi algo importante: não tem nada de errado em ser diferente. Eu só precisava entender como funciono. 

Cena 3: O Tratamento e a Aceitação

— Como? — perguntou a pequena Ana, curiosa. 

— Primeiro, aceitei que precisava de ajuda. Fui a uma psicóloga que me explicou sobre algo chamado TDAH. Não, não era preguiça, nem desleixo. Meu cérebro só funcionava diferente. 

— E aí? Virou mágica? Você ficou organizada do nada? 

A adulta riu alto, aquela risada que fazia ecoar alegria e autoconhecimento. 

— Ah, não! Nada de mágica instantânea. Mas comecei com pequenos passos: agenda, listas de tarefas, lembretes… E adivinha? Aprendi até a gostar! Fiz terapia, tomei o tratamento adequado, comecei a meditar e encontrei o meu ritmo. E, olha só, hoje eu falo em público e até organizo as reuniões no trabalho! 

A pequena Ana arregalou os olhos. 

— Uau! Então, a gente venceu? 

Cena 4: A Vitória

— Sim, vencemos. Mas sabe o que é mais importante? — A Ana adulta se ajoelhou e olhou nos olhos da pequena. — Entender que não somos menos porque precisamos de ajuda. E que ser diferente é o que nos torna especiais. Você nunca foi inadequada, só estava aprendendo a navegar um mundo que às vezes não entende pessoas como nós. 

A criança sorriu pela primeira vez. 

— E você… quer dizer, eu… fico feliz? 

— Muito feliz. — A adulta apertou a mão dela com carinho. — Porque o segredo é se organizar aqui dentro primeiro. Quando você se entende, o mundo lá fora fica mais fácil de lidar. 

O espelho começou a brilhar novamente, prestes a fechar o portal entre o passado e o presente. 

— Cuide bem de mim, Ana. — A adulta disse, piscando. — E lembre-se: não tem problema esquecer algo… desde que você nunca esqueça de quem você é. 

A pequena Ana acenou com um brilho nos olhos, agora carregando menos peso no coração e mais esperança. Afinal, ela sabia que o futuro a esperava… com todas as suas listas, desafios e conquistas.

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